O Brasil das patricinhas


Yvan Fialho*


Certo dia – um sábado desses – fui com um amigo no Shopping Maceió. Ele precisava comprar umas roupas, já que a mala dele tinha sido extraviada no vôo Rio-Maceió.


Confesso que nem sou de freqüentar shoppings, embora não tenha nada contra quem os freqüenta, pois segundo os especialistas, não tem nada melhor do que unir conforto, comodidade e variedades de artigos num mesmo lugar. Concordo plenamente. Mas é de mim mesmo não gostar de multidões.


Pois bem, voltando ao shopping...

Enquanto o amigo comprava algumas peças de roupa, fiquei aguardando num daqueles bares da praça de alimentação bebericando um chope e observando o ambiente.

Era gente pra lá e pra cá. Gente demais!

Vi uma turma de meninas adolescentes com aquelas “pulseirinhas do sexo” indo ao encontro de um mesmo número de garotos com brinco na orelha. Encontram-se na porta do cinema, compraram bilhetes e entraram. Não reparei qual era o nome do filme, pois desviei a minha atenção para os pensamentos que assolava a minha cabeça naquele momento.

Fiquei a indagar aos meus botões se seria possível aquela liberdade vivenciada pelos nossos jovens, se não fosse a luta em defesa dos direitos civis lá trás nos idos dos anos 60 até meados dos anos 80.


A liberdade dos nossos jovens tem a ver com a liberdade de expressão e esta só foi conseguida com muita luta nos anos de chumbo da ditadura, contra o regime militar.


Pois bem, cheguei a conclusão que a liberdade conquistada, em alguns aspectos, chega a ser libertinagem sem limites. O pior é que estão confundindo liberdade com libertinagem.

Essa mesma liberdade que dá às pessoas o direito ao livre arbítrio sobre a sua vida, também afasta alguns jovens do reto caminho da cultura e do conhecimento. Enveredam pelo simplismo porque é mais fácil não fazer esforço pra entender a complexidade da vida. Não gostam de fazer esforço para pensar. Quando não estão metido com drogas.

Essa patricinhas, dondocas e os agroboys de hoje, lá do cinema, formam uma legião de incultos, que se o Brasil dependesse de uma revolução ideológica, dificilmente poderia contar com eles, pois são do tipo que não trocam a sua comodidade, seu conforto e seu luxo por uma farda, mosquitos, florestas e noites e noites no calor tropical das matas a espera do inimigo.


Assim, como fizeram um número de mulheres guerreiras, decididas, inteligentes que não se deixaram vencer pelo luxo, mas ao contrário, tinham um ideal de defender o país das mãos dos abutres da ditadura. Essas mulheres e homens que lutaram para nos brindar com as liberdades dos direitos civis, que as patricinhas e dondocas desfrutam hoje sem nem ao menos saber como conseguiram.


Que seria de nós se dependêssemos das patricinhas, dondocas e agroboys. Acabou-se a vontade de indignar ou é melhor esperar que os outros lutem por nós?


Não espero que elas entendam este texto. Seria esperar demais.


Minha mente já estava preste a se inundar com um turbilhão de medo, insegurança e outras coisas ruins, quando finalmente fui salvo pelo amigo que chegara das compra e me despertou daquele pesadelo. Afffffe. Cruz credo!


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*Jornalista