O vendedor de cerâmicas
Conta as más línguas que o relato a seguir é verdadeiro. Ouvi-lo de um amigo, em uma das muitas viagens que fiz a Pão de Açúcar, na década de 90.
Muito bem, vamos a estória...
Certo dia apareceu na cidade uma firma vendendo cerâmica para colocar no piso ou nas parede de quem quisesse comprar. Não tinha novidade nenhuma nos produtos, a novidade estava apenas na forma de vender, pois os vendedores levavam os mostruários com fotos, visitavam as casas e faziam as propostas de venda. Do ponto de vista mercadológico, uma grande sacada: venda em domícilio de meterial de construção. Boa idéia. Boa não. Ótima! Louvável idéia.
Pois bem...
Muita gente comprou. E uma delas foi o saudoso amigo Edmundo, um velho funcionário público municipal, mecânico de primeira e brincalhão inverterado.
Na mesma rua do Edmundo morava um próspero fazendeiro, sujeito bom, mas ignorante de pai e mãe, embora quisesse sempre demonstrar que era muito esperto. Na verdade, era um sujeito que não tinha a menor idéia de como as coisas no mundo urbano funcionava. Ele entendia como ninguém da vida do campo, dos tratos culturais, preparo do solo, da colheita, do tratamento do rebanho e coisas da vida pastoril. Era um agropecuarista nato.
Um dia, num finalzinho de tarde, ao chegar em casa, percebeu que havia uma multidão em frente à casa do velho Edmundo. Ele olhou e perguntou a um dos vizinhos:
- Que "burbutão" de gente é aquele alí em frente da casa de Edmundo?
- São os homens que vieram trazer a cerâmica que o "seu" Edmundo comprou - respondeu o outro.
Diante da resposta, ele saiu de fininho, sorrateiramente, como quem não quer nada e foi olhar a tal "cerâmica".
Havia algumas caixas abertas e algumas peças espalhadas pelo chão. O velho Edmundo obervava feliz, com um sorriso no rosto.
O fazendeiro viu e gostou. Chegou calado e saiu mudo. Quase ninguém percebera sua presença, não tivesse ele perguntado a um menino na calçada:
- Onde fica esse povo que vende cerâmica?
- No Hotel de Valdice - repondeu o menino.
Ninguém imaginou que o interesse repentino, fosse culminar com os fatos a seguir narrados...
O fazendeiro foi pra casa, tomou banho, jantou e em seguida, por volta de umas 7 horas da noite foi bater no Hotel de Valdice. O local era conhecido como "Pensão da Dona Porra", pois a dona Valdice utilizava a palavra com muita fluência e generosidade e a aplicava livremente, como um substantivo comum, quando se dirigia a qualquer vivente.
Era seu porra pra cá, seu porra prá lá, que porra você quer comer?, quem é o porra que está aí? e "porr aí" vai...
No começo o hóspede estranhava, mas logo se acostumava, pois não era falta de respeito, apenas uma forma alegre de se comunicar. Todos entendiam...
O ilustre fazendeiro bateu palma à porta do hotel, num velho costume provinciano, e ouviu uma voz:
- Quem porra tá aí? - perguntou a dona
- É aqui que "está" os rapaz da cerâmica? - indagou o fazendeiro, devolvendo a pergunta.
- É sim. Entre e espere aí na sala que ele já vai.
Em seguida a dona da pensão virou-se para o vendeddor de cerâmica e disse.
- É com você, seu porra, que o homem quer falar.
O rapaz terminou de tomar café e em seguida foi atender ao fazendeiro.
- Pois não?
- É o senhor que "bota" cerâmica nas casas? - perguntou o fazendeiro.
- Sim senhor. Sou eu mesmo - repondeu o vendedor
- E por quanto você "bota"?
- Ah, cidadão, tem que tirar a medida. Você já mediu? Sabe quanto metros vai precisar? - indagou o rapaz.
- Não senhor...
-Tem que medir - interrompeu o vendedor. Você mede e depois traz aqui que eu digo quanto é.
-Ah, bom! ... tem que medir - disse o fazendeiro pensativo.
- Tem. - confirmou o vendedor.
-Então tá bom. Eu vou medir e trago já a medição.
- Está bem - disse o vendedor.
O fazendeiro foi pra casa e lá não tinha um fita métrica adequada para medir, porém havia espalhado no quintal alguns vergalhoes, resto de uma reforma que fizera na casa há alguns anos; pedaços de madeiras, cabos de vassouras (sem as vassouras) e mais alguns picuás e um lápis, que ele cuidou logo de colocar escorado na orelha.
Ele olhou em volta, pegou alguns objetos e fez a medição. E feliz da vida, por ter conseguido o seu intento, dirigiu-se de volta para o hotel. Lá chegando, o rapaz estava sentado à porta e perguntou:
-E aí, mediu?
-Ah, medi sim! - respondeu o feliz fazendeiro com sorriso de orelha a orelha.
-E quanto deu? - perguntou o vendedor pegando a caderneta para anotar as medidas.
E o feliz fazendeiro repondeu:
- Um vegalhão, dois cabos de vassouras e um lápis.
Parabéns, Yvan, pelo texto! Pão de Açúcar, a nossa querida "Terra de Jaciobá" é muito rica em lendas, causos, mistérios e personagens interessantes. Valeu pelo resgate!!!
ResponderExcluirAmeii tipo..Me acabei de rir!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkk
Beiijos
Valeeeu Yvan... Parabéns por narrar os causos da "Cidade Branca"... Um abraço!
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