segunda-feira, 10 de maio de 2010

Lendas de Pão de Açúcar III


O roubo do macaco

Esta estória quem me contou foi e meu amigo, o irreverente Jorge Kanecão.


Veja como os falsos profetas tentam enganar a boa-fé das pessoas...


Era uma segunda-feira de janeiro e Pão de Açúcar amanheceu sob um forte calor – coisa natural e peculiar à cidade – aumentado pela multidão que circulava pela feira-livre, o que fazia parecer que a sensação térmica era muito maior do que os graus marcados no termômetro da praça, o qual assinalava seus quarenta e cinco graus, mas pareciam cinqüenta graus.


Era gente chegando, gente saindo...


Tinha caminhões paus-de-arara carregados e apinhados de gente.


Era vendedor de todo tipo de produto e material. Uns gritavam daqui, outros de lá... Sem contar com o barulho dos bacorinhos, dos bodes e dos carneiros, que lembrava uma cidade ibérica, na época do comércio das grandes navegações. A feira era uma coisa primitiva, mas necessária para poder mover a economia da cidade.


- Olha a manga! É dez por cinco! – gritava o vendedor
- Faz doze por cinco, não, moço? – perguntava uma dona-de-casa, apalpando as frutas.
- Dá pra fazer. Mas é só pra senhora. “Num” diga por aí não – arrematou o sabido vendedor.


A descrição é necessária para situar o leitor no universo da estória, para facilitar o processo de introspecção à narrativa.
Pois bem, foi neste cenário que, de repente, ouviu-se um grito:


- Roubaram meu macaco! – gritou uma jovem senhora desesperada, de dentro de uma barraca.
- Como foi isso? – quis saber um senhor que passava no momento.
- “Num” sei não! Ele tava aqui agorinha mesmo e... sumiu! – respondeu a mulher.


Antes que a mulher pudesse raciocinar com precisão, alguém disse:
- Procure mestre Ferreira que ele vai dizer a “donde” tá seu macaco.
- É mesmo! Né! Quem sabe ele descobre – disse a mulher resignada.


Disse isso e partiu em busca da casa do mestre Ferreira lá na rua São Francisco.


O mestre Ferreira era um sujeito metido a sabido, que, segundo diziam-se fazia “trabalhos” miraculosos de ocultismo, macumba e coisas afins... (Aqui pra nós: eu nunca acreditei nisso).


Ao chegar lá a mulher foi convidada a entrar.
- Que aconteceu com “zi fia”? – perguntou o "caboclo incorporado", sentado numa cadeira de balanço (sic)
- Mestre, roubaram meu macaco lá na feira e eu quero saber a “donde” ele tá. – disse a jovem mulher, quase em prantos.
- Se preocupe não, “zi fia”, seu macaco vai aparecer. Vou fazer uns “trabaios” pra “mode” ele aparecer – disse o mestre, demonstrando uma segurança invejável.
- Mas antes, vou “percisar” de um dinheirinho pra “mode” comprar o “materiá” – disse o homem sem abrir os olhos, para não deixar transparecer a enganação.
- E quanto é, mestre? – indagou a mulher
- Uns cinqüenta “conto”, deve dá.
- Tudo isso, mestre?!!! – duvidou a cliente.
- Eu acho que vinte deve dá, pois ainda tenho um restinho do “materiá” aqui...
- É! Vinte dá. Mas tem de pagar agora – disse o velho enfático.
- Tá certo – disse a mulher entregando o dinheiro ao mestre.
- Pronto. São onze horas, disse o homem olhando o relógio no braço.
- Umas duas horas da tarde a senhora aparece aqui que eu já tenho a resposta – disse o velho levantando-se e quase empurrando a mulher, de casa a fora.


A mulher saiu e voltou para a feira. Não conseguiu trabalhar, pensando, ansiosa, no que poderia lhe dizer o mestre Ferreira.


Passadas as três horas de prazo, a mulher resolver ir ter com o mestre pra saber a resposta. Ao chegar lá na casa daquele “homem sabido”, nem precisou entrar, pois o mestre já a esperava na porta.


- E aí mestre, já sabe a “donde” tá o meu macaco? – indagou a mulher ansiosa.
-Sei sim, “zi fia”! – respondeu o mestre ... – Mas não se preocupe, que o seu macaco tá muito bem cuidado, tá sendo bem alimentado, já foi vacinado e tá tudo bem com o seu animal...
- O quê?!!!! – espantou-se a mulher.
- Isso mesmo que a senhora ouviu – confirmou o mestre Ferreira.
- Não pode ser – contestou a mulher.
- Por que não? – quis saber o homem
-Porquê, mestre, o macaco que estou procurando é o do carro, seu cabra de peia – disse a mulher, brava com o tamanho da “enrolação”.


E o mestre entrou na carreira pra dentro de casa pra não devolver o dinheiro, já gasto com a feira da semana, e fechou a porta na cara da mulher, que ficou lamentando o quanto foi besta por acreditar naquele “sabido.

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